Editorial

Autores/as

  • Anette Blaya Luz Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

DOI:

https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v14i3.690

Palabras clave:

Editorial, Psicanálise, Método

Resumen

A feitura deste editorial se constituiu para mim em uma mescla complexa de emoções e sentimentos. Ao mesmo tempo que, com enorme prazer, apresento aos nossos leitores o volume 14, número 3 da Revista de Psicanálise da SPPA, sinto uma profunda nostalgia, pois é meu editorial de despedida. Dr. Zelig Libermann, querido e competente colega, passa a exercer a tão honrosa função de editor a partir do próximo número.

Despedidas fazem parte da vida e precisamos aprender a conviver com elas. Assim sendo, abrimos este número com o registro de duas despedidas muito dolorosas: as comoventes homenagens do Dr. Germano Vollmer a nosso querido colega, Dr. Santiago Maria Wagner, e a do Dr. Horácio Etchegoyen a seu amigo e companheiro de muitos anos, Dr. León Grinberg, por ocasião da morte de ambos. Um esboço biográfico de León Grinberg (1921-2007) marca a dor pela interrupção para sempre do “diálogo vivo e estimulante que León Grinberg manteve por décadas com todos os psicanalistas”. A Revista de Psicanálise da SPPA também lamenta profundamente os desaparecimentos do Dr. Wagner e do Dr. Grinberg.

Seguir escrevendo psicanálise é uma forma especial de homenagear os que se foram e de introduzir os que chegam para que possam ser lidos também no futuro. Fazer uma revista de psicanálise é, por tanto, uma proposta desafiadora. A realização de uma tarefa como esta exige um trabalho de equipe harmônico e sincronizado.

Os laços de amizade que se criam em função disto são muito significativos e a experiência é enriquecedora e inesquecível. Agradeço a cada colega que trabalhou comigo ao longo da elaboração destes seis números da Revista, pois, além de termos tido a oportunidade de um convívio gostoso, baseado principalmente naqueles pressupostos básicos de que nos fala Bion (1948), quando a tarefa é o elo mais saudável entre os membros de um grupo de trabalho, tivemos também a chance de nos enriquecer com o convívio e a troca de idéias e de experiências.

Trabalhamos e nos divertimos ao mesmo tempo. Acertamos muitas vezes, erramos outras tantas. Aprendemos com a experiência. Crescemos. Discutimos e entramos em acordos. Assim é a vida e assim somos nós, seres humanos.

A psicanálise, a exemplo da vida, também vem crescendo e amadurecendo.

Apesar de seus cem anos é ainda muito jovem, mas já sofreu muitas evoluções e transformações. Este número é dedicado ao tema Evoluções do Método Analítico.

O título deste número deve-se à linha temática que norteou as atividades
científicas que aconteceram na SPPA sob a competente gestão do Dr. Ruggero Levy ao longo dos anos 2006-2007. Várias dos palestrantes que discutiram este assunto - Evoluções no Método Analítico – têm seus trabalhos aqui publicados. Ao pensarmos sobre Evoluções do Método Psicanalítico, escolhemos um texto clássico para delimitar um momento do que reconhecemos como evolução ou desenvolvimento no método psicanalítico. Com toda sua singularidade e criatividade, o texto de Ronald Fairbairn. Repressão e retorno dos objetos maus, foi o nosso eleito.

Flávio Rotta Corrêa, que tem se debruçado mais demoradamente sobre a obra deste autor, escreveu um comentário que contempla as questões relativas à perspectiva evolutiva. No mundo em que vivemos o exame das considerações sobre o retorno dos objetos maus e sua utilização na compreensão da maldade não poderia ser mais atual e adequado aos propósitos deste número.

Luiz Carlos Mabilde, com Método analítico: Freud na atualidade, apresenta uma bela revisão do conceito de método, seguida de discussão a respeito da existência ou não de diferenças conceituais entre método e técnica, concluindo que existe um método e várias técnicas, frutos dos recentes desenvolvimentos técnicos da psicanálise. Conclui descrevendo o que o autor entende ser o método analítico hoje.

Outro Luis Carlos, desta feita o Luis Carlos Menezes, nosso querido colaborador de São Paulo, nos brinda com o artigo O método no tratamento psicanalítico: evoluções? no qual descreve a criação do método psicanalítico como co-extensiva de concepções fundamentais e do modo particular de pensar próprio da natureza do processo analítico. Assinala ainda a diferença entre o método e inovações e variações técnicas inerentes ao trabalho clínico.

David Taylor, em Antecipação e interpretação, propõe que o analista antecipe os próximos movimentos do paciente e assim aprenda a utilizar sinais premonitórios, o que resulta em uma mudança na atividade interpretativa. O analista estaria desse modo aprimorando sua intuição, conforme os ensinamentos de Bion, e a tarefa analítica aconteceria predominantemente no que está por ocorrer no aqui-agora e não mais no que aconteceu há alguns minutos.

Questionamentos muito pertinentes a respeito das propostas de Taylor são alinhavados por nossa colega Jussara Dal Zot, que participou ao lado deste da mesa que versava sobre os aspectos evolutivos no método advindos dos desenvolvimentos conseqüentes à obra de Wilfred Bion. Dal Zot traz reflexões de outros pensadores e autores psicanalíticos, além de Bion, para pensar a situação analítica e assim captar sinais antecipatórios que possibilitem utilizar a interpretação de uma forma mais criativa.

Ainda dirigido aos aspectos evolutivos do método psicanalítico, mas agora em relação à obra de Winnicott, temos o trabalho de Sonia Abadi, que também é a entrevistada deste número. Tanto na entrevista como em seu artigo, Abadi salienta a mudança de paradigma que Winnicott introduz. Conceitos como transicionalidade e suas repercussões metapsicológicas ocupam um lugar de destaque nos modelos atuais de pensamento bem como nas mudanças de paradigma. Abadi introduz ainda o conceito de pensamento em rede dentro da psicanálise, sugerido pela autora como uma significativa aquisição na evolução técnica da psicanálise.

D. W. Winnicott na atualidade é a contribuição da Dra. Nara Caron. Claro, bem escrito como costumam ser os trabalhos da nossa amiga Nara, enfatiza o quanto a personalidade e o espírito livre de Winnicott se refletiram nas suas contribuições ao desenvolvimento do método e técnica psicanalíticos. Salienta a espontaneidade, o frescor e a vivacidade das propostas desse autor, aspectos estes que são a própria essência das evoluções necessárias a qualquer ciência para se manter atual e sempre enriquecida.

A abordagem freudiana da ilusão e da crença: a posição religiosa e a posição do analista, texto de Alberto Cabral, aborda a interessante questão da polêmica entre Umberto Eco e Carlo Martini a fim de fundamentar a atualidade da questão levantada por Freud em O futuro de uma ilusão, quando Freud faz uma contundente crítica à posição religiosa.

A inclusão gradual de aspectos da personalidade e do conteúdo das mentes tanto do paciente como do analista caracterizaria a evolução do método em direção ao desenvolvimento de uma assintótica situação analítica total, na qual a aceitação e uso técnico do maior número possível dos referidos aspectos de personalidade e conteúdos mentais trariam um enriquecimento da relação analista-analisando.

Esta evolução teórica é o que nos proporciona de forma brilhante o Dr. Raul Hartke, colega querido cujo texto, A evolução da teoria e prática psicanalíticas: rumo a uma assintótica situação analítica total muito nos honramos de publicar neste número.

Espero, pois, meu querido leitor, que este número provoque muitas reflexões e que sirva como instrumento de consulta para muitos outros momentos. Aos colegas que seguem na Revista, sob o comando do novo Editor – Zelig – meus votos de um sucesso pleno de gratificações, pois a tarefa é, sem sombra de dúvida fascinante, mas também exigente.

Vou sentir saudades,

Anette Blaya Luz
Editora da Revista de Psicanálise da SPPA

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Biografía del autor/a

Anette Blaya Luz, Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

Citas

Sem referências

Publicado

2020-10-30

Cómo citar

Luz, A. B. (2020). Editorial. Revista De Psicoanálisis De La SPPA, 14(3), 415–417. https://doi.org/10.5281/sppa revista.v14i3.690

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