Convite à escrita

Call for papers - Convite para envio de artigos a serem avaliados com fins de publicação

Revista de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre

Volume temático: O FUTURO DE UMA (DES)ILUSÃO

 

Prezado(a) colega,

 

Em O futuro de uma ilusão (1927), Freud ressalta que, quanto menos conhecemos nosso passado e presente, mais inseguros estaremos em relação ao futuro. Após quase um século da publicação dessa obra, observamos que, em nosso vocabulário cotidiano e científico, a palavra civilização foi substituída pela expressão futuro do planeta. Criou-se uma atmosfera de fim dos tempos na vida real, que foi abordada na literatura, no cinema, nas artes e, como não poderia deixar de ser, na psicanálise.  

O próprio tempo interroga suas setas. Na Modernidade, existia uma única direção apontando para o progresso, mas, hoje, entendemos que nem mesmo o tempo é vivenciado de forma linear e progressiva.  Desdobra-se em camadas superpostas, semelhante a uma massa que se deixa ser sovada e moldada (Pál Pelbart, 2005). De uma só vez, o tempo engole o presente, aprisiona o passado e esconde o futuro desconhecido e virtual, sempre à espera da próxima dobra. 

Diante da complexidade do enfrentamento psíquico frente às problemáticas civilizatórias, em especial na era pós-moderna, observamos uma crescente tendência ao "não lugar", à ausência de presença, reflexão e pensamento crítico. Essa realidade agrava-se com a ascensão das expressões do narcisismo de morte, manifestadas em forma de racismo, homofobia e xenofobia, as quais revelam a insuportabilidade das diferenças e limites. Assim, o desafio imposto a todos nós é refletir sobre o futuro de um planeta que caminha para se tornar inabitável para a humanidade e outras espécies.

A recente pandemia, as guerras, os fanatismos e ódios, as catástrofes climáticas e as polarizações políticas podem ter afastado a nossa ilusão de um futuro melhor, o que traz alguns questionamentos:

- O quanto de negação existe quando vivemos a ilusão de que o mundo seria melhor, sem renúncias pulsionais?

- Será que somos capazes de enfrentar a nossa potência destrutiva? Os componentes tanáticos que desafiam o poder da palavra como substituta da violência já não podem ser usados, transformados, desenvolvidos? 

- O quanto a dissociação frente a estas percepções nos conduz à estética do liso (Byung-Chul Han, 2019), que reflete acerca da perda de profundidade reflexiva da atividade artística em uma cultura pautada pelo imediatismo, pelo viver de aparências, pela superficialidade de um mundo sem camadas, rugas, ranhuras, dobras, gordura, manchas e cicatrizes?

- A esperança na integração entre Eros e Thanatos é possível?

- Resistiremos à ameaça de colapso de nossos recursos psíquicos?

Ilusão é uma esperança afobada..., reflete Carrara (2024). Necessitamos renovar as reflexões sobre esperança e ilusão? Precisamos cultivar a esperança em sua face psíquica, exercendo nossa curiosidade para o que ainda não nasceu e que, por isso mesmo, está sempre em busca, abrindo-se ao não conhecido, ou pensar assim seria uma ilusão? Ou este pode ser o caminho para uma des-ilusão madura, necessária e transformadora?

A ilusão forja o nosso primeiro contato com o outro, necessário para criar um quantum de crédito na vida. Se ela for seguida de uma satisfação real e de nova privação (des)ilusão, percorrerá um caminho dentro de um ritmo de segurança capaz de levar à esperança no futuro. É a partir da des-ilusão que cresceríamos potencialmente em direção à alteridade, ao respeito e à tolerância de nossas limitações e diferenças. A desilusão não apenas desconstrói ilusões, mas também redefine as expectativas e relações do sujeito com o mundo e consigo mesmo. A psicanálise sugere que a esperança, derivada da oscilação ilusão/desilusão, impulsiona o desejo de um futuro melhor e é essencial também para a construção de utopias.

 

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar. (Fernando Birri citado por Eduardo Galeano, 1994, tradução livre)

 

Essas são algumas formulações que tangenciam o espaço para pensar, no qual a psicanálise passa a ser uma das possibilidades de propor alternativas para enfrentar os problemas psíquicos humanos.

Convidamos o/a colega, para participar com suas reflexões junto à nossa Revista, desenvolvendo suas observações a respeito das ilusões e (des)ilusões que as flechas e as dobras do tempo não cessam de apontar.

As diretrizes para Submissão encontram-se em nosso site: Diretrizes para Submissão.

Caso tenha alguma dúvida ou necessite de mais informações, não hesite em entrar em contato por e-mail,  revista@sppa.org.br ou pelo telefone +55 51 984870158 (WhatsApp) com a bibliotecária Eunice Schwaste.

Aguardamos sua contribuição até 20 de março de 2025.

 

             Atenciosamente,

             Ana Cristina Pandolfo

             Editora Chefe          

                                          

             Elena Tomasel

             Karem Caineli

             Regina Orgler Sordi

             Editoras Associadas     

 

Referências

Carrara, M. S. (2024). A árvore mais sozinha do mundo. São Paulo: Todavia.

Galeano, E. (1994). Las palabras andantes. Madri: Siglo XXI.

Han, B. (2019). A salvação do belo. São Paulo: Vozes.

Pelbart, P. P. (2005). Seminário tempo e cinema. Porto Alegre: UFRGS.