Editorial

Autores

  • Tula Bisol Brum Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)

DOI:

https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v18i3.286

Resumo

Prezado leitor,

Com satisfação anunciamos o número 03/2011 da Revista de Psicanálise da SPPA. Iniciamos com uma comovente despedida ao prestigiado psicanalista André Green, falecido em 22 de janeiro de 2012. Cláudio Eizirik, com seu profundo conhecimento e sensibilidade, nos transmite quem foi André Green, a dimensão e importância da sua obra na evolução do pensamento psicanalítico.

Nossa revista é quadrimestral, os números um e dois há algum tempo são temáticos e o número três reúne artigos diversos como verão a seguir. No entanto o tema violência e trauma nas várias etapas da vida e na cultura permeiam os artigos aqui apresentados, quase criando um fio condutor que nos chama a atenção para a necessidade permanente e eterna de elaboração da destrutividade no ser humano. Como disse Bion, desta guerra não se dá baixa, ao se referir à tendência natural do ser humano a funcionar de forma menos evoluída, primitiva.

Autores de outras nacionalidades, da Itália, da França e do México, além de São Paulo e da SPPA, articulam diferentes questões através do vértice psicanalítico, literário e filosófico em torno da violência, cada vez mais intensa e presente nas sociedades e culturas. Como dizia André Green, a natureza humana e a cultura são fundamentais na elaboração e estruturação do psiquismo.

Anna Scansani, psicanalista italiana, discorre sobre a “estrada” percorrida por pacientes crianças que viveram experiências traumáticas, a possibilidade de reverie e de recomeçar a sonhar.

Também é no espaço para sonhar que Yazmín Mendoza Espinosa, psicanalista mexicana, nos mostra, através de sua experiência como analista e grávida, como pacientes com um funcionamento predominantemente psicótico tentam elaborar a vivência dolorosa da ambivalência no momento da concepção, revivendo no campo analítico emoções muito primitivas, principalmente de rejeição.

O tema bullying na adolescência, que tem despertado a atenção e preocupação da sociedade e tem sido recorrente nos meios de comunicação, é discutido por Ana Margareth Bassols. São abordados aspectos relacionados ao processo evolutivo da adolescência e alguns fatores associados ao comportamento agressivo.

Marli Bergel, psicanalista da SPPA como Bassols, questiona se o fetiche na cultura é uma desmentida estrutural ou patológica.

Também colega na SPPA, Roaldo Machado, colabora neste número com um trabalho que procura aproximar a psicanálise da moderna biologia, referindose ao texto de Freud Inibição, sintoma e angústia.

Luciane Falcão, mais uma vez representando a produção científica da SPPA, propõe que nenhum progresso psíquico é possível se não for admitida a hipótese de uma destrutividade primária que se apresenta aliada e antagônica às forças organizadoras da vida, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade e cultura, tendo como referência principalmente as ideias freudianas de André Green e Jean Luc Donnet.

Laurence Kahn, psicanalista francesa com profundo conhecimento da metapsicologia freudiana, também historiadora, versada em filosofia grega (helenista), articula seu pensamento psicanalítico com várias áreas do conhecimento e da cultura para abordar o que lhe parece ser uma das problemáticas da obra de Imre Kertész; este autor, ao recusar a comiseração para com o extermínio e seu caráter irrepresentável, tenta encontrar uma língua para significar a liquidação da tragédia e reflete sobre o que é ser inocente. Num segundo artigo publicado neste número, Quando a Shoah é um trauma, Laurence Kahn interroga as teorias psicanalíticas que se desenvolveram no pós-guerra em torno do traumatismo extremo sofrido pelos deportados para os campos de concentração nazistas. Finaliza este artigo questionando a resposta da psicanálise com sua própria teoria do assassinato e da destrutividade, constatando que a barbárie teve como consequência uma modificação do marco teórico da metapsicologia. Propõe que se pense até que ponto este efeito não seria uma tentativa de matar a própria psicanálise.

Aproveitamos a oportunidade da sua visita à nossa sociedade, em outubro de 2011, para entrevistá-la.Nesta entrevista aqui publicada ela nos fala sobre sua formação e ideias principais.

No último artigo, Maria Cristina Franciscato, doutora em literatura grega antiga pela FFLCH-USP, investiga, através da literatura e dos mitos, a natureza e as prerrogativas de Apolo e Dioniso, divindades fundamentais do panteão olímpico, seus poderes antagônicos e complementares presentes também na dinâmica de nossa psique. As forças do bem e do mal são comentadas sob o viés psicanalítico de David E. Zimerman.

Finalizamos com a resenha, de Anna Scansani, sobre o livro A sala íntima. Teoria e técnica do campo analítico, de Giuseppe Civitarese, que reúne uma série de trabalhos repletos de investigação clínica e teórica. Por intermédio do mapeamento da evolução dos conceitos chaves em psicanálise (sempre e somente os que tenham relevância para o trabalho clínico), Civitarese ilustra como a teoria do campo analítico é um marco que promove mudanças de paradigma na psicanálise.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Tula Bisol Brum
Editora da Revista de Psicanálise da SPPA

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Publicado

04-08-2017

Como Citar

Brum, T. B. (2017). Editorial. Revista De Psicanálise Da SPPA, 18(3), 517–519. https://doi.org/10.5281/sppa revista.v18i3.286

Edição

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