Editorial

Autores

  • Zelig Libermann Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre / International Psychoanalytical Association

DOI:

https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v16i2.293

Resumo

Os modelos psicanalíticos da mente têm como base as vivências dos períodos iniciais da vida. As experiências desses primeiros anos são consideradas marcos fundamentais na estruturação do psiquismo humano e em seu funcionamento ao longo do tempo.

No entanto, ainda que a psicanálise ressalte a influência dos delineamentos da mente ocorridos na primeira infância sobre os períodos seguintes da evolução do psiquismo, Freud e os autores que o sucederam consideram que o desenvolvimento psíquico é um processo evolutivo.

E, nesse processo evolutivo, a adolescência reveste-se de um caráter especial. De acordo com Freud, a sexualidade em dois tempos que caracteriza a espécie humana confere importância à adolescência. Nela há um redespertar dos vários conflitos vividos na infância, agora influenciados pelas transformações corporais e fisiológicas da puberdade, as quais dão uma dimensão diferente às pulsões sexuais e agressivas que constituem o ser humano.

Ainda que se possa atribuir semelhança entre alguns objetivos da infância e aqueles da adolescência, notadamente a busca de individuação e de independência, é preciso considerar que as possibilidades de ação do corpo adolescente (o crescimento corporal, o desenvolvimento muscular, a autonomia de deslocamento, a sexualidade biologicamente amadurecida, as transformações do pensamento etc.) tornam especial essa fase da vida. Tanto que Jean Bergeret considera, em seu livro Personalidade normal e patológica, que as raras possibilidades de transformação de uma linhagem psicótica, estruturada no início da vida, em uma linha de estruturação neurótica, poderiam acontecer, sob certas condições, somente na adolescência.

Além disso, cabe destacar que, diferente do que ocorre na infância (concomitância da tendência à individuação com a dependência e o amplo cuidado familiar), na adolescência, devido às transformações citadas acima, o indivíduo tende a se deslocar com maior intensidade para o mundo fora do âmbito familiar. Em função disso, o adolescente está mais exposto às influências de outros grupos e às manifestações da cultura.

Evidentemente, as peculiaridades desta fase do desenvolvimento se refletem na prática clínica. As vicissitudes adolescentes exigiram, ao longo do tempo, uma ampliação do conhecimento psicanalítico com vistas ao atendimento de pessoas que estão na transição entre a infância e a vida adulta. Não só do ponto de vista da teoria e da técnica, como também da interação da psicanálise com a cultura, uma vez que os adolescentes, por sua própria natureza cambiante, são bastante influenciados pelas transformações cada vez mais rápidas da sociedade atual. Com base nessas constatações, o Conselho Editorial escolheu dedicar um número da Revista à psicanálise de adolescentes. Assim surgiu Adolescência: Questões Atuais. Como nossos leitores poderão constatar nas próximas páginas, os artigos aqui publicados apresentam uma ampla abrangência de aspectos ligados à adolescência. Trata-se de uma seleção de trabalhos que abordam não apenas aspectos da teoria e da técnica como também a influência da cultura atual sobre as temáticas adolescentes.

Consideramos que os textos de Phllipe Jeamet, Maria Elisabeth Cimenti, Ingeborg Magda Bornnholdt, Roosevelt Cassorla, Catalina Bronstein, Raymond Cahn, Virginia Ungar, Alvaro Nin e Silvia Flechner, David Leo Levisky, Suzana Depperman Fortes e Norma Utinguassu Escosteguy constituem uma apreciável amostra do pensamento psicanalítico atual a respeito da adolescência.

Desejo uma boa leitura a todos.

Zelig Libermann
Editor da Revista de Psicanálise da SPPA

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Publicado

04-08-2017

Como Citar

Libermann, Z. (2017). Editorial. Revista De Psicanálise Da SPPA, 16(2), 215–216. https://doi.org/10.5281/sppa revista.v16i2.293