Entre a norma e o poder

branquitude e a permanência do racismo estrutural

Autores

  • Lia Vainer Schucman

Palavras-chave:

Branquitude, Racismo estrutural, Meritocracia

Resumo

A branquitude constitui um conceito sociológico que denota a posição de privilégio e vantagem estrutural ocupada por indivíduos racialmente categorizados como brancos em sociedades marcadas por hierarquias raciais, como é o caso da brasileira. Esse constructo está intrinsecamente vinculado ao processo histórico de racialização, o qual emergiu no século XIX como um discurso pseudocientífico destinado a legitimar desigualdades sociais, correlacionando traços fenotípicos — como a cor da pele — a supostas superioridades morais, intelectuais e estéticas. No contexto brasileiro, o racismo estrutural se evidencia na naturalização de instituições predominantemente brancas, cuja sub-representação de negros reflete uma ordem social que, de forma sistemática, privilegia a branquitude. Dois pilares ideológicos sustentam essa dinâmica de dominação racial: o mito da democracia racial, que dissimula as disparidades ao propagar a noção de equidade entre brancos e negros, e a meritocracia, que atribui o sucesso ao mérito individual, obscurecendo os mecanismos de privilégio inerentes à branquitude. Enquanto o racismo interpessoal se manifesta de forma explícita em atos discriminatórios, o racismo estrutural opera de modo difuso, reproduzindo desigualdades por meio de instituições e práticas sociais institucionalizadas. A superação do racismo estrutural demanda transformações estruturais, como a garantia de acesso equitativo à educação, saúde, oportunidades laborais e redistribuição de renda e terra, além do reconhecimento crítico de que a branquitude não constitui uma essência biológica, mas uma posição de poder historicamente construída e perpetuada.

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Biografia do Autor

Lia Vainer Schucman

Doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), com estágio de doutoramento no Centro de Novos Estudos Raciais. Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Referências

Bento, M. A. & Carone, I. (Orgs.). (2002). Psicologia social do racismo (2. ed.). São Paulo: Vozes.

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Schucman, L. V. (2020). Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. São Paulo: Veneta.

Publicado

15-07-2025

Como Citar

Vainer Schucman, L. (2025). Entre a norma e o poder: branquitude e a permanência do racismo estrutural. Revista De Psicanálise Da SPPA, 32(2). Recuperado de https://revista.sppa.org.br/RPdaSPPA/article/view/1407

Edição

Seção

Psicanálise em diálogo