Uma metáfora musical para a psicanálise
DOI:
https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v20i2.67Keywords:
música, psicanálise, função, rêverie, conflito estético.Abstract
O trabalho tem como objetivo descrever a íntima interação que existe entre a música e a psicanálise: a psicanálise entendendo o fenômeno musical em suas origens e significados e a música aprimorando o aparelho de escuta do psicanalista, voltado para os processos primitivos de comunicação. Relaciona a música com a função psicanalítica, especialmente com a rêverie materna, que contribui diretamente para a transformação dos ruídos (elementos brutos) em elementos musicais. O ponto central na história da música, para o autor, é a construção do sistema tonal, com o trítono destruindo a primazia do acorde perfeito, abrindo um amplo espaço para modulações, o que leva ao desenvolvimento de formas mentais altamente simbólicas. Essa metáfora pode ser aplicada diretamente ao modelo analítico, quando o analista, através do ato interpretativo (trítono), gera um espaço triangular, rompendo com a fantasia de consonância com a mãe. Por outro lado, a possibilidade de apreciar música, ou aproveitar um tratamento psicanalítico, tem a ver com o que Meltzer chama de conflito estético. O autor utiliza o exemplo do mito de Orfeu para mostrar como o crescimento mental define-se pelo uso da imaginação, levando ao processo de simbolização.
A musical metaphor for psychoanalysis
This article aims to describe the intimate interaction between music and psychoanalysis: psychoanalysis understanding the musical phenomenon in its origins and meanings and the music improving the psychoanalyst’s listening device, turned to the primitive communication processes. It relates music with the psychoanalytical function, especially with maternal rêverie, which contributes directly to the transformation of noises (brute elements) in “musical elements”. For the author, the central issue in the history of music is the construction of the tonal system, with the tritone destroying the primacy of the perfect chord and opening a wide space for modulations, which leads to the development of highly symbolic mental forms. That metaphor can be applied directly to the analytic model, when the analyst, through the interpretative act (tritone), generates a triangular space, breaking up with the fantasy of consonance with the mother. On the other hand, the possibility to appreciate music, or to benefit from a psychoanalytical treatment, is connected to what Meltzer calls aesthetic conflict. The author makes use of the Orpheus’ myth as an example to show how the mental growth is defined by the use of imagination, leading to the symbolization process.
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