Editorial
DOI:
https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v23i3.255Abstract
Editorial
Temos a grata satisfação de apresentar agora o número especial Campo Analítico II, dando continuidade ao estudo dessa temática que vem despertando crescente interesse da comunidade psicanalítica ao redor do mundo. Procuramos contar – assim como já havíamos feito em Campo Analítico I – com autores de nosso meio e de outras nacionalidades que têm se dedicado profundamente a esta matéria.
Iniciamos com uma entrevista que Thomas Ogden ofereceu ao também psicanalista Luca Di Donna, publicada originalmente na Rivista di Psicoanalisi (Itália) e gentilmente cedida por eles para publicação em português. Trata-se de uma instigante conversa na qual Ogden conta como surgiu seu interesse pela psicanálise e sintetiza muitos de seus pontos de vista e conceitos a respeito da prática psicanalítica, do campo e do terceiro intersubjetivo. Relata também seu grande interesse pela literatura, que culminou com a publicação de um livro de psicanálise e crítica literária em parceria com seu filho Benjamin Ogden.
A seguir, apresentamos o artigo de Roosevelt M. S. Cassorla O campo analítico como campo do sonhar, no qual se propõe a estudar a complexidade dos fenômenos que ocorrem no campo analítico e que proporcionam significado às experiências emocionais da dupla. Discute aspectos técnicos que facilitam o trabalho de significação, assim como aqueles em que os sonhos não são possíveis (não-sonhos). Debate de que modo modelos artísticos, cinema e teatro por exemplo, podem iluminar as ideias sobre o campo e apresenta material clínico ilustrando suas ideias.
Em Uma fugaz primavera em agosto, Raul Hartke elucida, através de uma sessão de análise, a forma como compreende a fundamental oscilação entre conhecer e tornar-se a experiência emocional dentro do modelo proposto por Bion. Afirma que os fenômenos da sala de análise enquanto propriedade emergente do par analítico são sempre transubjetivos.
Examinando as vicissitudes da constituição do campo analítico na análise de adolescentes, Ruggero Levy oferece a leitura de Dor psíquica insuportável e campo analítico. A seu ver, o campo encontra-se disperso no início do tratamento para depois concentrar-se na dupla analítica. São também trazidos a debate aspectos da técnica, bem como a metaforização dos personagens do campo, inicialmente vividos em sua concretude.
Com o objetivo de abordar de que forma a defesa perversa pode se apresentar no campo psicanalítico, o grupo composto pelos autores Mauro Gus, Ida Ioschpe Gus, Ana Cristina Pandolfo, Angela Plass, Maria Regina Ortiz, Martha Magalhães Bellora e Sandra Machado Wolffenbüttel pensa sobre O impacto da defesa perversa no campo analítico. Através da discussão de uma vinheta clínica, os autores buscam compreender metapsicologicamente as diferenças entre defesa e estrutura perversa e afirmam que estas situações clínicas podem ser abordadas terapeuticamente através do entendimento dos enactments da dupla analítica.
Finalizando o estudo sobre o tema central deste número, Luis Kancyper discorre sobre Campo e baluarte intersubjetivos no conflito de gerações. Neste artigo, afirma que a família funciona à maneira de uma totalidade estruturada cuja dinâmica irá depender da situação de cada integrante com relação aos demais em uma causalidade recíproca. Dessa forma, o conflito de gerações é considerado por ele como produto dessa relação intersubjetiva.
Publicamos ao final uma seção especial dedicada a três artigos premiados em congressos nos quais houve participação de colegas da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. O primeiro desses, Sábato, Winnicott e Grunberger: um encontro em El túnel, foi elaborado por Carlos Marcírio Naumann Machado e Elizabeth Mazerón Machado. Trata-se de trabalho vencedor do prêmio Sigmund Freud no 30º Congresso da Fepal que aconteceu em 2014 em Buenos Aires. Os autores fazem uma relação entre a novela de Sábato (El túnel) e entendimentos baseados em Donald Winnicott e Belà Grunberger. Com o auxílio desses teóricos, buscam compreender a profunda imersão narcísica do protagonista da novela, assim como sua necessidade de reassegurar-se diante da perda de seu objeto amoroso.
O segundo artigo é de autoria da colega Elena Tomasel e recebeu o prêmio da Associação Brasileira de Candidatos no Congresso da Febrapsi em 2015. Intitulado Um balanço entre as ondas do passado e as atuais: reflexões sobre a fase inicial de formação psicanalítica, propicia a reflexão sobre algumas possíveis equivalências entre o grupo-família atual e o infantil. Efetua comparações entre o isolamento vivido por Freud no primórdio de suas publicações e o afastamento necessário que pode ser experimentado por candidatos no início de sua formação psicanalítica.
Em conclusão, publicamos o artigo Sobre barreiras autistas, cujas autoras Ingeborg Magda Bornhold, Carla Brunstein, Cláudia Alice de Miranda, Liliana Ramos do Amaral Soibelman e Maria Geraldina Viçosa foram, em 2015, premiadas no VII Simpósio da Diretoria de Infância e Adolescência da SPPA. As autoras estudam a manifestação de fenômenos e estados autistas na análise de pacientes de diferentes idades e estruturas dinâmicas, baseando-se principalmente na obra de Frances Tustin.
Desejamos a todos uma ótima leitura.
Lúcia Thaler
Editora da Revista
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