EDITORIAL
DOI:
https://doi.org/10.5281/sppa%20revista.v22i3.202Resumo
Para a abertura deste número, convidamos o colega Victor Guerra, membroda Associação Psicanalítica do Uruguai, a homenagear sua conterrânea, VidaMaberino de Prego, falecida em maio deste ano. Vida foi uma psicanalista quemuito contribuiu para os estudos da psicanálise da infância, influenciando, nãoapenas seus colegas uruguaios, mas também muitos analistas gaúchos e paulistasque participaram de fértil intercâmbio com ela e com seu marido, Luis EnriquePrego Silva, em anos passados. Victor nos presenteia com um texto poético etocante, no qual conta a rica trajetória de Vida e o vínculo afetivo e de aprendizagemque estabeleceu com ela.Inspirados pelo 30º Congresso Latino-americano de Psicanálise, que ocorreuem Buenos Aires, em setembro de 2014, adotamos, no presente número, a temáticarealidades e ficções. Isto permite contarmos com uma série de artigos do referidoevento que nos possibilitam desfrutar – ao menos em parte – da qualidade e riquezado que foi apresentado naquela ocasião. Presentes também alguns que, sem teremparticipado do Congresso, são consonantes com o tema escolhido.Realidades e ficções – em nossa prática clínica – permanentemente seinterpenetram no campo psicanalítico, de forma que é difícil precisar o quecorresponde a cada uma separadamente. Estudar como originam e revelam asmais variadas manifestações do campo é tarefa do psicanalista desde sempre.Esperamos que a coletânea aqui selecionada enriqueça o debate sobre essesfenômenos.Dentro do espírito do Congresso, procuramos elencar, não apenas textosque privilegiam nossa área específica de conhecimentos, mas também aquelesnos quais a psicanálise dialoga com a cultura, com as artes. Pensamos que a trocamultidisciplinar é essencial para que a psicanálise se fertilize e se desenvolva,sem alienar-se em si mesma.Começamos com um artigo de Jorge Luis Maldonado, Considerações sobrea realidade externa no enactment. O autor procura mostrar como o medo docolapso, (breakdown) em um paciente narcisista, é experimentado pelo analistaatravés de um enactment e o quanto considera importante, além das interpretaçõesda realidade interior do paciente, incluir intervenções que deem conta das realidadesnão-eu para alcançar uma transformação psíquica.Seguimos com Repensar o Édipo, entre o familiar e o estranho, de JorgeCanteros. O autor sublinha ser necessário revisar os modos de compreensão daresolução do conflito edípico, incluindo nele não apenas o que é familiar, mas também o que é estrangeiro, a alteridade. Expõe operações de transmissão demensagens absorvidas pelo indivíduo através de suas experiências com o real ecomo é possível, a partir disto, construir uma versão pessoal.Também é disponibilizado um painel completo do Congresso – Realidadese ficções – abordagem clínica do paciente somático: psicoterapia ou psicanálise?– no qual constam os artigos de Admar Horn (Psicossomática psicanalítica),Marilia Aisenstein (Pulsão, somatização, discurso) e Ruggero Levy (Adolescência,psicossomática e psicanálise). Os três autores discutem a psicossomática a partirda compreensão psicanalítica e ilustram seus pontos de vista através de casosclínicos.Teresa Olmos de Paz, com Vínculo masoquista e encruzilhadaidentificatória, também por meio de uma ilustração clínica, reflete sobre o lugardos processos identificatórios na constituição do sujeito, destacando a importânciade identificações alienantes, que não estruturam ou mesmo desestruturam o sujeito.A seguir, temos Seis autores em busca da personagem Louise Bourgeois,da autoria de um grupo de estudos da SPPA composto pelos colegas Alda ReginaDorneles de Oliveira, Juarez Guedes Cruz, Luisa Maria Rizzo, Nina Rosa Furtado,Rosane Schermann Poziomczyk e Tula Bisol Brum. O grupo compõe um trabalhode criação a partir da leitura da peça Seis personagens à procura de um autor deLuigi Pirandello. A introdução é feita por João Augusto Frayze-Pereira.Convidamos a editora da Revista Brasileira de Psicanálise, Silvana Rea,para contribuir com Com o tempo nas mãos: as sobras de Geraldo de Barros.Neste artigo ela aborda a série Sobras do referido artista e tece reflexões sobre otempo, a memória e suas relações com a realidade e a ficção.Damos prosseguimento com Autobiografia e o elogio da ambiguidade, deJuarez Guedes Cruz, no qual ele apresenta sua concepção da autobiografia comoum gênero literário em que há sempre certa dose de ficção e de ambiguidade. Nasequência temos Sobre o jogo do amor e do azar, artigo de Daphne de CastroFayad e Fernando Aguiar, que utiliza como inspiração a personagem Alexis doromance Um jogador, de Dostoievski. Os autores discutem as apostas natransformação (pelo jogo ou pelo amor) e a repetição, utilizando-se do aporte deconceitos psicanalíticos tais como narcisismo, ideal do eu e masoquismo.Concluído este conjunto temático, é com satisfação que inauguramos umasessão especial de intercâmbio científico entre a SPPA e a Sociedade Portuguesade Psicanálise, que se caracteriza pela permuta de textos publicados em nossasrespectivas revistas. A iniciativa desta troca partiu do editor da Revista daSociedade Portuguesa, Rui Aragão Oliveira e da presidente de nossa Sociedade,Anette Blaya Luz. A ideia nos pareceu muito enriquecedora por possibilitar uma aproximação científica e afetiva com nossos colegas portugueses, acrescida davantagem adicional de partilharmos a mesma língua.Como abertura deste intercâmbio científico, oferecemos à SociedadePortuguesa a publicação de Caminhos e descaminhos da juventude atual: desafiospara um analista de adolescentes, por Viviane Sprinz Mondrzak, que está emnosso volume XVII, número 3, de 2010. E publicamos aqui o artigo Into the wild:o labirinto da adolescência, da colega portuguesa, Ana Belchior Melícias. Eladesenvolve suas compreensões dos processos complexos da adolescência a partirda análise do filme Na natureza selvagem (Into the wild), título, por si só, bastantesugestivo das características marcantes desta etapa do ciclo vital. Consideramosmais do que oportuno iniciarmos este intercâmbio por um texto também pertinenteao tema realidades e ficções.Neste momento em que a atual Diretoria da SPPA finaliza seu mandato,aproveitamos para cumprimentar todos seus membros pela tarefa cumprida e pelosucesso de sua administração. Desejamos a todos uma boa leitura e um feliz AnoNovo.
Lúcia Thaler
Editora da Revista de Psicanálise da SPPA
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