Paixões de amor. Oh, something to love!
Keywords:
relações amorosas, amor apaixonado, formação da idealização, desenvolvimento da ilusão e desilusão, ideal do Eu, narcisismo, estrutura edípica, o olharAbstract
Às vezes, na minha vida profissional como psicanalista, estive envolvida com homens e com mulheres que pediram a minha ajuda para superar uma infelicidade prolongada e persistente causada por um superinvestimento, insatisfatório e frustrante, em um amor apaixonado. Esses pacientes pareciam imobilizados, prisioneiros de um investimento que não podia ser satisfeito, e que, apesar disso, eles buscavam com determinação e obstinação suspeitas. Em tais pacientes, não havia qualquer desejo de renunciar a esse amor impossível, e, portanto, pediam ajuda pelo desejo de encontrar alguma solução ilusória através da qual o seu amado voltaria para eles, ou se tornaria ciente do seu amor e do erro cometido, não o retribuindo. Às vezes, a ilusão prolongada às quais esses pacientes se apegavam me lembrava aquelas pessoas que pedem a ajuda de cartomantes e de feiticeiros. Aparentemente, existia o desejo de renunciar a essa aspiração; contudo, mais profundamente, eles estavam determinados a embarcar em uma história de amor tentando encontrar o caminho para aquela pessoa que parecia impossível de alcançar. O amor permeia as histórias das nossas vidas. Muitos autores, escritores, poetas, filósofos e, também, psicanalistas, se lançaram nessa busca para entender a essência do amor.Contudo, apesar de esse conceito ter sido estudado ao longo de séculos e culturas, o amor nunca consegue ser explicado de forma conclusiva. Seguimos tentando entender aquilo que permanece um mistério, um voo de metáforas (Kristeva, 1983). As raízes do amor se originam na primeira infância, mas as experiências infantis, sozinhas, não conseguem explicar as vicissitudes complexas e infinitas que o amor enfrenta e desenvolve ao longo da vida. O amor assume um papel central na formação da idealização e do desenvolvimento da ilusão e da desilusão, mas muda na passagem do tempo, por meio da evolução do indivíduo e da sociedade. Entre os muitos pacientes que acompanhei, escolhi discutir em detalhe um caso bastante exemplar que me permitiu explorar novamente, e de forma mais aprofundada, alguns princípios fundamentais da teoria psicanalítica em relação ao conceito de amor, paixão e as suas vicissitudes.
Palavras-chave: relações amorosas, amor apaixonado, formação da idealização, desenvolvimento da ilusão e desilusão, ideal do Eu, narcisismo, estrutura edípica, o olhar.
Abstract
Passions of love. Oh, something to love!
Sometimes in my professional life as psychoanalyst I have been involved both
with men and women who came asking for help in order to overcome a prolonged and persistent unhappiness caused by an unsatisfying and frustrating overinvestment in a passionate love. These patients appeared to be stuck, prisoners of an investment which could not be satisfied, and which, in spite of this, they pursued with suspect determination and obstinacy. In these patients there was no wish to give up this impossible love, and therefore ask for help to this purpose, rather the desire to be able to find some illusionary solution through which their loved one would go back to them, or become aware of their love and of the mistake made by not loving them in return. Sometimes the longstanding illusion these patients would stick to reminded me of those people who seek the help of fortune tellers and sorcerers. Apparently there was a wish to forsake this aspiration, however, more deeply, there was a determination to enter this love story by managing to find somehow the road to that person who seemed impossible to get. Love permeates the stories of our lives. Many authors, writers, poets, philosophers as well as psychoanalysts undertook the quest to understand the nature of love, but despite being studied across the ages and cultures love can never be conclusively explained. We continue to seek to understand what remains a mystery, a flight of metaphors (Kristeva, 1983). The roots of love are there in early childhood, however
childhood experiences, by themselves, are not enough to explain the complex and endless vicissitudes love encounters and develops during a lifetime. Love plays a pivotal role in the formation of idealization and the development of illusion and disillusionment, but it changes in time, through the evolution of the individual and society. Among the many patients I have seen, I chose to discuss in detail a quite exemplary case that allowed me to re-explore in detail some of the fundamental principles of the psychoanalytic theory in connection with the concept of love, passion and its vicissitudes.
Keywords: love relations, passionate love, idealization formation, the development of illusion and disillusionment, ego ideal, narcissism, oedipal structure, the look.
Resumen
Pasiones amorosas. ¡Oh, algo para amar!
A veces, en mi vida profesional como psicoanalista, me he visto involucrada con hombres y mujeres que llegaron buscando ayuda para superar una infelicidad prolongada y persistente ocasionada por una sobreinvestidura insatisfactoria y frustrante en un amor apasionado. Esos pacientes parecían estar paralizados, prisioneros de una investidura que no se podía satisfacer y a la cual, a pesar de ello, se aferraban con una determinación y obstinación sospechosa. En esos pacientes no había deseo de renunciar a ese amor imposible y, en consecuencia, buscar ayuda para lograrlo; más bien, deseaban encontrar alguna solución ilusoria por medio de la cual su ser amado volvería a ellos o tomaría conciencia del amor de mis pacientes y del error de no haberlo correspondido. A veces, la ilusión prolongada a la que esos pacientes se aferraban me recordaba a aquellas personas que buscan la ayuda de videntes o hechiceros. Aparentemente, existía un deseo de renunciar a esa aspiración, pero, más profundamente, había una determinación de internarse en esa historia de amor logrando encontrar, de alguna manera, el camino hacia esa persona que parecía imposible conquistar. El amor impregna las historias de nuestras vidas. Muchos autores, escritores, poetas, filósofos, así como psicoanalistas se propusieron entender la naturaleza del amor, pero, a pesar de su estudio a lo largo de las eras y en tantas culturas, el amor nunca se ha podido explicar de forma conclusiva. Seguimos intentando entender lo que sigue siendo un misterio, un vuelo de metáforas (Kristeva, 1983). Las raíces del amor están en la primera infancia, pero las experiencias infantiles, por sí solas, no bastan para explicar las complejas e infinitas vicisitudes que el amor enfrenta y desarrolla a lo largo de la vida. El amor juega un rol fundamental en la formación de la idealización y en el desarrollo de la ilusión y de la desilusión, pero cambia con el tiempo, con la evolución del individuo y de la sociedad. Entre los muchos pacientes que he tratado, decidí discutir en detalles un caso bastante ejemplar que me permitió ahondar en la exploración de algunos principios fundamentales de la teoría psicoanalítica en conexión con el concepto de amor, pasión y sus vicisitudes.
Palabras clave: relaciones amorosas, amor apasionado, formación de la idealización, desarrollo de la ilusión y la desilusión, yo ideal, narcisismo, estructura edípica, mirada.
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