Considerações sobre o sonho a dois e o não-sonho a dois no teatro da análise

Autores

  • Roosevelt Moisés Smeke Cassorla Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Palavras-chave:

Sonho, Não-sonho, Sonho a dois, Função alfa, Enactment, Colocação em cena da dupla, Teatro da análise, Processo analítico, Intersubjetividade em psicanálise

Resumo

O trabalho discute aspectos relacionados ao que ocorre durante o processo analítico. Propõe-se que o analista deve sonhar, também acordado, os sonhos e não-sonhos que o paciente propõe no teatro da análise. Dessa forma, constituem-se sonhos a dois e não-sonhos a dois. Os sonhos se manifestam como cenas, enredos, histórias, com forte pregnância visual, e indicam que percepções brutas adquirem qualidade psíquica. Propõese chamar não-sonhos a sonhos em potencial que não puderam ser sonhados e que se apresentam como não-cenas ou cenas estanques, estereotipadas, sem acesso à trama simbólica. O analista sonha os sonhos do paciente em outras vertentes, ampliando seu significado e sonha seus não-sonhos dando-lhes significado. Discute-se o conceito de enactment (colocação-em-cena patológica da dupla) como conluio paralisante, fruto de não-sonhos a dois. Finalmente, apresentam-se características do funcionamento mental do analista que facilitem sua função sonhar. As idéias apresentadas são ilustradas com material clínico (AU)

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Biografia do Autor

Roosevelt Moisés Smeke Cassorla, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP)

Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

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Como Citar

Cassorla, R. M. S. (2005). Considerações sobre o sonho a dois e o não-sonho a dois no teatro da análise. Revista De Psicanálise Da SPPA, 12(3), 527–552. Recuperado de https://revista.sppa.org.br/RPdaSPPA/article/view/890