A virada para a intuição

do saber e o sonhar ao tornar-se in-tu-it

Autores

  • Ofra Eshel

Palavras-chave:

Intuição em Bion, In-tu-it (intuit), Ontologia psicanalítica, Estados inconscientes não reprimidos e não representados, O espectro de uma unicidade analítica, At-one-ment

Resumo

A intuição, definida de forma ampla por Kant como o contato com a realidade sem o agenciamento do pensamento racional, foi recuperada por Bion para o vocabulário psicanalítico. Este artigo centra-se no termo bioniano intuição como apresentado nos seus últimos escritos e, particularmente, no seu controverso artigo Notas sobre memória e desejo (1967), que traz expressa de forma contundente a demanda radical de Bion de suspender memória, desejo, consciência e impressões sensoriais, inclusive entendimento, com vistas a evitar qualquer obstáculo para a intuição do psicanalista da realidade com a qual ele deve estar-com (be at one). Dessa forma, o analista entra, junto com o paciente, em um contato intuitivo e em um estar-um-com (being-at-one-with), uma realidade psíquica íntima e perturbadora que o paciente, por si mesmo, não é capaz de suportar. Ofra Eshel expande o significado fundamental dessa abordagem ontológico-intuitiva de ser na experiência (que substitui uma abordagem epistemológica) quando trabalha com estados inconscientes não reprimidos e não representados, os quais ela associa diretamente ao que Bion e Winnicott escreveram nos seus últimos escritos sobre catástrofe mental e colapso precoce e sobre as organizações defensivas maciças levantadas pelo indivíduo para se proteger destes estados. Na vinheta clínica é descrito o ser in-tu-it (intuit), a realidade psíquica desconhecida, impensável e incomunicável do paciente, assim como o lento vir a ser de uma experiência emocional nova e vivida.

 

 

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ofra Eshel

Doutora em Psicologia, atua como psicanalista e supervisora; faz parte da Sociedade Psicanalítica de Israel e também é membro da Associação Psicanalítica Internacional (IPA); é membro honorário do New Center for Psychoanalysis (NCP), Los Angeles, e já foi vice-presidenta da International Winnicott Association. É fundadora e diretora do programa de pós-graduação Independent Psychoanalysis: Radical Breakthroughs (Psicanálise independente: avanços radicais, em tradução livre) no curso de Estudos avançados em Psicoterapia Psicanalítica da Faculdade de Medicina da Universidade de Tel Aviv. Tem publicações em revistas e livros sobre psicanálise, e a sua obra já foi traduzida para oito línguas. Ela também atua como conferencista em eventos de âmbito nacional e internacional. Contemplada várias vezes com bolsas e prêmios, é autora de The Emergence of Analytic Oneness: Into the Heart of Psychoanalysis (Routledge, 2019), traduzido para o chinês em 2023.

Referências

Bergstein, A. (2014). Beyond the spectrum: fear of breakdown, catastrophic change and the unrepressed unconscious. Rivista Di Psicoanalisi, 60, 847-868.‏

Bion, F. (1995). The days of our years. In Mawson, C. (Ed.). The Complete Works of W. R. Bion, (Vol. 15), (pp. 91–111). London: Karnac, 2014.

Bion W. R. (1965). Transformations. London: Karnac.

Bion, W. R. (1967a). Second thoughts. London: Karnac.

Bion, W. R. (1967b). Notes on memory and desire. The Psychoanalytic Forum, 2, 272-273.

Bion, W. R. (1967). Los Angeles Seminars and Supervisions. J. Aguayo & B. Malin (Eds.). London: Karnac, 2013.

Bion, W. R. (1968). Bion in Buenos Aires: Seminars, Case Presentation and Supervision. Aguayo, J., de Cortinas, L. P. & Regeczkey, A. (Eds.). London: Karnac, 2018.

Bion, W. R. (1970). Attention and Interpretation. London: Tavistock.

Bohm, D. (1980). Wholeness and the Implicate Order. London: Routledge & Kegan Paul.

Bollas, C. (1987). A sombra do objeto: psicanálise do conhecido não pensado. Traduzido por Fátima Marques. São Paulo: Escuta.

Braga, J. C. & Brito, G. (2020, january). Intuition in Bion’s colloquial words (Brazilian supervisions, 1973-1978). Presentation at Bion International Conference, Barcelona.

Eigen, M. (2012). Kabbalah and Psychoanalysis. London: Karnac.

Eshel, O. (2004). Let it be and become me: notes on containing, identification, and the possibility of being. Contemp. Psychoanal, 40, 323-351.

Eshel, O. (2012). A beam of “chimeric” darkness: presence, interconnectedness and transformation in the psychoanalytic treatment of a patient convicted of sex offences. Psychoanalytic Review, 99, 149-178.

Eshel, O. (2013). Patient-analyst “withness”: on analytic “presencing”, passion, and compassion in states of breakdown, despair, and deadness. Psychoanalytic Quarterly, 82, 925-963.

Eshel, O. (2015a). From extension to paradigm shift in clinical psychoanalysis: The revolutionary influence of Winnicott. Presentation at the 1st Congress of the International Winnicott Association (IWA), São Paulo, SP.

Eshel, O. (2015b, august). From extension to paradigm shift in clinical psychoanalysis: The revolutionary influence of Bion. Presentation at the International Psychoanalytic Summer Institute (PSI), Tuscany, Italy.

Eshel, O. (2016). The “voice” of breakdown: on facing the unbearable traumatic experience in psychoanalytic work. Contemporary Psychoanalysis, 52, 76-110.

Eshel, O. (2017a). From extension to revolutionary change in clinical psychoanalysis: the radical influence of Bion and Winnicott. Psychoanalytic Quarterly, 86(4),753-794.

Eshel, O. (2017b). Into the depths of a “black hole” and deadness. In Reiner, A. (Ed.), Of Things Invisible to Mortal Sight: celebrating the Work of James S. Grotstein (pp. 39-68). London: Karnac.

Eshel, O. (2019a). The emergence of analytic oneness: into the heart of psychoanalysis. London, New York: Routledge.

Eshel, O. (2019b). The vanished last scream: Winnicott and Bion. Psychoanalytic Quarterly, 88(1),111-140.

Eshel, O. (2021, 24 a 27 de julho). Deixe acontecer e torne-se si mesmo: transformações em unicidade [apresentação no congresso]. Congresso da Associação Internacional de Psicanálise 2021, Vancouver, Canadá.

Eshel, O. & Zeligman, Z. (2017). Was It or Was It Not? When Shadows of Sexual Abuse Emerge in Psychoanalytic Treatment. Jerusalem: Carmel.

Ferro, A. (2021). Foreword. In Levine, H. B. (Ed), The Post-Bionian Field Theory of Antonio Ferro: theoretical Analysis and Clinical Applications (pp. x-xiii). London, New York: Routledge.

Freud, S. (2018). A interpretação dos sonhos, (Vol. 1). Traduzido por Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM. (Trabalho original publicado em 1900).

Freud, S. (1915). The Unconscious. Standard Edition, 14, 161-215.

Freud, S. (2011). O Eu e o Id, “autobiografia” e outros textos. In Obras completas de Sigmund Freud, (Vol. 16). Traduzido por Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1923).

Green, A. (1998). A mente primordial e o trabalho do negativo. In Livro anual de Psicanálise XIV, (pp. 133-148). São Paulo: Escuta.

Grotstein, J. S. (2013). Foreword. In Aguayo, J. & Malin, B. (Eds.) Wilfred Bion: los Angeles Seminars and Supervisions, (p. xi). London: Karnac.

Kohut, H. (1984). The role of empathy in psychoanalytic cure. In Goldberg, A. & Stepansky, P. (Eds.) How Does Analysis Cure?, (pp. 172-192). Chicago: Univ. Chicago Press.

Levine, H. B. (2016). Is the concept of O necessary for psychoanalysis? In Levine, H. B. & Civitarese, G. (Eds.) The W. R. Bion Tradition: Lines of Development - Evolution of Theory and Practice over the Decades. (pp. 377-383). London: Karnac Books.

Levine, H., Reed, G.S. & Scarfone D. (Eds.) (2013). Unrepresented States and the Construction of Meaning: clinical and Theoretical Contribution. London: Karnac.

Levine, H. B. (2022). Affect, Representation and Language: Between the Silence and the Cry, London, New York: Routledge.

Mawson, C. (2019). Psychoanalysis and Anxiety: from Knowing to Being. London, New York: Routledge.

Ogden, T. H. (2014). Fear of breakdown and the unlived life. International Journal of Psychoanalysis, 95, 205-223.

Ogden, T. H. (2015). Intuiting the Truth of What's Happening: on Bion's “Notes on Memory and Desire”. Psychoanalytic Quarterly, 84, 285-306.

Ogden, T. H. (2019). Ontological Psychoanalysis or “What Do You Want to Be When You Grow Up?”. Psychoanal Quarterly, 88(4), 661-684.

Sandler, P. C. (2005). The Language of Bion: a Dictionary of Concepts. London, New York: Karnac.

Tustin, F. (1972). Autism and Childhood Psychosis. London: Hogarth.

Tustin, F. (1990). The Protective Shell in Children and Adults. London: Karnac.

Vermote, R. (2013, march). The undifferentiated zone of psychic functioning: An integrative approach and clinical implications. Presentation at the European Psychoanalytical Federation (EPF) Conference, Basel.

Vermote, R. (2019). Reading Bion. London, New York: Routledge.

Winnicott, D. W. (1965). The Psychology of Madness: a contribution from psychoanalysis. In Winnicott, C., Shepherd, R. & Davis, M. (Eds.), Psycho-analytic Explorations (pp. 119-129). London: Karnac Books, 1989.

Winnicott, D. W. (1967). The concept of clinical regression compared with that of defence organization. In Winnicott, C., Shepherd, R. & Davis, M. (Eds.), Psycho-Analytic Explorations (pp. 193-199). London: Karnac Books, 1989.

Winnicott, D. W. (1971). Playing and reality. Harmondsworth, Middlesex: Penguin.

Winnicott, D. W. (1974). Fear of breakdown. International Review of Psycho-Analysis, 1, 103–107.

Publicado

07-03-2024

Como Citar

Eshel, O. (2024). A virada para a intuição: do saber e o sonhar ao tornar-se in-tu-it. Revista De Psicanálise Da SPPA, 31(1). Recuperado de https://revista.sppa.org.br/RPdaSPPA/article/view/996